Kurt Halsey_ Enough hurt
"Eu não sou noiada" Disse batendo a porta de entrada e saindo correndo pelo longo corredor do apartamento. Vinha da rua chorando. Estaria discutindo com alguém no corredor?
O homem grisalho sentado em sua poltrona e observando a cena largou o jornal calmamente, calçou seus chinelos e dirigiu-se por aquele túnel que o separava daquele turbilhão. Porta fechada, luz apagada apenas um som abafado era percebido: Amanda!
Sua filha crescera e sob suas mechas vermelhas ainda deveria existir em algum lugar sua pequena menina. Aquela que ainda ontem brincava com areia na praia e tão facilmente podia ser consolada quando se desentendia com alguma amiguinha.,
Mas ali, em frente ao quarto já não sabia quem encontraria ao acessar o ambiente. Não identificava bem o que significava ser "noiada" e nem entendia quais motivos teria para tamanha confusão. Sabia que a filha tinha "namoradinho" e pressentia que algo acontecera entre eles: "Não pode ser sério, ela é uma criança de quinze anos, provavelmente nem beijara ainda". Pensava enquanto tomava coragem para virar a maçaneta da porta. "E se ela estiver grávida?" - horrorizou-se, mas logo afastou a idéia absurda. Suspirou "no meu tempo...".
Por certo não lembrava de tal tempo, das dores e das confusões de sua juventude; a vida adulta o separara dessa porção e à distância as coisas pareciam fáceis. Mas lá estava Amanda, alcunha "Tuca", choro abafado, cabeça no travesseiro, pés para o alto. A vida pedindo uma decisão e ele inerte sabendo que precisava fazer algo, mas o quê? Como evitar seu choro? Como trazê-la de volta e protegê-la para sempre? Sempre sua pequena filha, sua menina amada, Amanda...