
Ela chegou na escola nova. Ensino Médio, longe de casa, andaria de transporte coletivo e teria responsabilidades. Respirou fundo, entrou na sala de aula, sentou-se. Atrás dela uma menina não muito simpática, com uma longa franja loira e ares de excesso de popularidade. Começaram a conversar e descobriram afinidades muito maiores do que se poderia entender pois pareciam muito diferentes. Nem sempre estiveram juntas pelos anos escolares, mas nunca permitiram que a vida lhes afastassem.
Eram três da manhã. Olhou para o lado e teve certeza disso, o relógio marcava. Ao telefone "desculpa, mas disseste que eu poderia ligar a qualquer hora". Sim, ela dissera, mas precisava de alguns minutos para acordar. Do outro lado um choro fino interrompeu a advertência. A amiga, ao telefone, estava muito triste. Sentada na cama pensou entre uma fala e outra se a campainha do aparelho teria despertado a mãe e a irmã, mas a conversa prosseguiu assim mesmo até que se percebesse tranqüilidade no interlocutor. Agora, eram colegas na faculdade, anos 90 em seu início a adolescência em seu final. A vida continuava em uma amizade que já tinha histórias para contar há alguns anos.
Na casa da amiga aprendeu a descascar cenouras, a chegar muito tarde depois de uma festa, a tomar bebida alcoólica - nunca em grande quantidade mas o suficiente para abraçar o cachorro e dançar - a conviver com um galo que atendia pelo nome e recebeu a alcunha de "filha das quintas", pois era a noite sagrada para estar lá. O estágio, a formatura, o trabalho, casamento com separações ou não. Ela, mais tímida e séria, trabalhando muito, apaixonando-se com facilidade por causas e pessoas. A amiga vivendo com leveza, aventurando-se mais, mas apaixonando-se com mais critério e segurança.
Roda mundo, roda-gigante/ roda-moinho, roda pião/o tempo rodou num instante/ nas voltas do meu coração. Chico Buarque cantava no mp3 em uma noite quente do verão de dois mil e seis. O tempo a tornara tão mais distraída! Ali montando o blog do chá de fraldas de seu afilhado, primeiro filho da amiga com quem compartilhara parte de sua vida, pareceu se dar conta estavam se tornando comadres - do prefixo cum (companhia) + matre (mãe), em latim. De acordo com a tradição designação para as mulheres que proporcionam apoio e suporte emocional a uma amiga e atribuída à pessoa companheira e leal com quem se mantêm relações familiares e que, através do batismo, se torna a segunda mãe de seu filho. Eram laços muito fortes que se estabeleciam.
Contemplou as estrelas e sorriu, ouvira há alguns dias que seria mais uma missão de suas vidas, concordou em silêncio enquanto tentava compreender de que formam mágica as amizades se fazem inprescindíveis em nossas vidas.
Eu leio Caíla