Henrique de Jesus, Rumos
Ele um pouco mais velho, sorriso sedutor em uma aura de quem sabe muito de tudo mas não pertence a lugar nenhum como um lobo do mar. Ela displicente, tentando encontrar o ritmo certo para engrenar sua direção, Se mantinham a distância, mas a persistência do navegador foi rompendo aos poucos todas as defesas.
O encontro foi como tantos outros: não soaram clarins, não havia tapete vermelho, ao toque ela percebeu que poderia sentir-se segura e ele que estava a beira de um abismo, em sua ótica assustada, sem volta. Retirou-se do cenário sem explicar, ação não compreendida por ela há muito fora dos encontros emocionais. Confusa entreteve-se em outros mundos e aparentemente o esqueceu, ainda que, por vezes, sozinha tentasse entender porque nunca mais ouvira a sua voz.
Porém, ele retornou ao exato lugar onde estiveram juntos e ela estava lá. Não o esperava, mas por algum motivo aparentemente inexplicável passara ali e se detivera em suas recordações. O reencontro foi demorado e dolorido para ele amedrontado pela intensidade daquela mulher de funcionamento ora jovial, ora tão profundo que lhe superava as expectativas com facilidade. Por vezes, ele a caracterizava como inteligente, sagaz, mas sabia que era muito mais que isso. Tratava-se do olhar e da palavra que lhe atingiam a alma com precisão emitindo o som exato que necessitava.
E ela era tão diferente das outras mulheres! Nunca acreditara na máxima da mulher bonita e fútil, mas preferia sentir-se agraciado por um espécime escultural de fácil manejo a uma mulher discreta, sem grandes atrativos físicos e com nuances intelectivas e emocionais tão intensas.
Aquela mulher, aparentemente tão normal, o atraía, o superava, o impedia de afastar-se por muito tempo. E ele a contemplava perplexo enquanto tentava driblar o abismo de sentimentos que crescia a seu lado.
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"Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis...
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo do céu infinito.
Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi."
Pablo Neruda
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Reflexões no
ORKUT
Eu leio Caíla