Cris Carriconde
- Vamos ao Espirito Santo?
- COMO? - Acordo de meu transe
- Vamos visitar Vitória ou quem sabe o Ceará. - Ele, atento às minhas reações
- Quando? - Tomo fôlego tentando lembrar onde estou
- Nas tuas férias.
- Ahhhh...
Sexo e férias, fragrância agradável no ar. Volto totalmente à consciência e percorro as feições do meu interlocutor. Enquanto fuma seu cigarro, péssimo hábito que cultiva, o príncipe acaricia meus cabelos e planeja o que fazer nos próximos meses. Fala em presentes para afilhados e em percepções familiares. Por mais que eu ironize aquece-me a alma a idéia de estar com ele. Não desejo temporalidade, mas alimento-me da intensidade de nossos encontros.
Uma leve marca de expressão entre as sombrancelhas indicam preocupação no príncipe. E lá está ela. O cigarro é posto de lado e ele me olha intensamente. "Está tudo bem?" , pergunta. Respondo que só estava pensando de forma evasiva. A marca na testa se acentua e entre suspiros ouço uma leve crítica ao meu jeito reflexivo. Sim, essa é minha natureza, assim como gosto de chocolate e tenho um cachorro ciumento. São verdades aboslutas a meu respeito, não há como modificá-las, apenas consigo ao longo dos anos amenizá-las: o cachorro com treinamento social, o chocolate com disciplina, mas as reflexões...
Interrompo minhas conjecturas no momento exato em que eu iria à lua com ele. O principe é assim, me (des)constrói em um segundo e não deixa espaço para meus questionamentos intermináveis. Sigo observando-o e até me esqueço de ponderar sobre a viagem, flutuo por alguns instantes ainda que eu saiba que abril está muito distante e que esse homem ao meu lado na cama não é um príncipe. Mas, nesse instante, não me importo com isso, o sexo foi muito bom.
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Trilha incidental