Henfil
Terá jogado a toalha?
Quando sabemos que é chegada a hora de jogar a toalha? Peguntou-me uma amiga dia desses. Na hora eu não soube responder, pois era um momento muito triste onde ponderações filosóficas não teriam espaço. A convidei para um sorvete e esquecemos o assunto.
Madrugada de feriadão, Porto Alegre com metade de sua população, grande silêncio. Parece-me que até os morcegos saídos da cúpula da catedral viajaram. Surge-me a questão novamente. Desperto em sobressalto, o relógio marca três horas, não consigo mais conciliar o sono. Ah, a toalha ecoando! Pois bem, a jogamos muitas vezes, para coisas variadas e não somente com um significado de perda, mas como um sinalizador de limite, um divisor entre o tempo de investimento e a paralisia, a acomodação.
A metáfora da toalha é interessante. Expressão de uso corrente nas narrações de luta de boxe, criada a partir da imagem mental de um lutador que a lança ao chão em sinal de desistência. Muitas vezes, abandonar a luta no momento certo pode ser melhor. Desistir de um projeto em andamento não soa bem aos ouvidos de ninguém pela sensação de falta de persistência ou mesmo de incompetência, mas assim como um boxeador é preciso saber quando ainda há fôlego para chegar ao fim da luta sem beijar a lona.
Até que ponto deve-se seguir numa relação afetiva que, mesmo após investimento razoável de tempo, não atingiu crescimento ou prazer que garanta um pouco de felicidade? Ou como seguir em uma rotina no ambiente de trabalho que não traz retorno de qualquer natureza, mas ao contrário, causa estresse e atrofia intelectual e laboral?
Senti falta de conversar com meu conselheiro, apesar de ter ficado em sua companhia boa parte da noite. Sozinha, percebi um som de esgaçamento dentro de mim: minha engrenagem indicando superaquecimento, alcançando seu ponto de saturação. Mas não prestei atenção. Nesses momentos só aceito olhar de soslaio e questionar se estou errada, se estou hiperbolizando situações, se, se, se...
Mas mesmo desatenta, sei que a toalha está em minhas mãos, o coração fica apertado, no relógio antigo percebo a engrenagem trabalhando a passagem do tempo: cinco horas. Olho ou não olho? Jogo a toalha ou a guardo?
EU ESCREVI UM POEMA TRISTE
Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo
,Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
Mário Quintana
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