Bóris
Foi em uma tarde de sexta feira. Cheguei em casa e não percebi sua presença, só o cão feito de neve pulava a minha volta exigindo atenção. Olhei para a janela e não o vi, procurei por toda casa e em cada um de seus esconderijos secretos e também não o encontrei. Percebi que sua caixa de areia e utensílios não estavam mais lá, entristeci. Havia chegado a hora, repeti para mim mesma que eu era um adulto e ele um gato que sabidamente iria embora com aquele homem que estava se tornando meu ex-marido. Mas emocionalmente por alguns minutos, foi difícil decodificar tudo isso.
Bóris, Bobó para os íntimos, pêlos longos, ar pretencioso. Jamais atendia a chamados, os anotava para quando achasse interessante poder responder. Passava horas na janela observando os pássaros sem mover um músculo sequer, espreguiçava-se como ninguém. Vivia como poucos, com classe e sabedoria. Pela comunicação não deixava dúvidas quanto ao que queria: se comida, limpeza da sua caixa de areia ou mesmo um cafuné. Rigoroso em seus gostos selecionava meus cremes pela fragrância e sua ração pelo sabor se não gostasse resmungava ou ignorava por longos períodos!
Saiu da minha vida de forma compulsória, ônus por eu ter optado seguir um novo caminho, do qual não me arrependo, mas cada vez que abro a porta seja a da entrada do apartamento quando chego em casa ao final do dia ou a do banheiro depois do banho, parece que vou vê-lo ali, olhos graúdos a me esperar para uma conversa longa e amigável!
O gato é uma maquininha
que a natureza inventou,
tem pelo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.
Ferreira Gullar
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Cominidade do Reflexões no ORKUT
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Eu leio Caíla