15.2.06 |
A amizade aconteceu rápido. Não houve a construção necessária, em tese, nem o tempo de encubação tradicional. Não sentamos distantes no mesmo banco trocando olhares furtivos, depois um pouco mais próximos e por fim lado a lado. Na verdade, olhares nunca precisaram ser trocados, a empatia foi mais forte. Sabíamos, ou melhor, sentíamos que algo fazia sentido quando estávamos juntos e gostamos de permanecer ali em frente ao mar, sob o luar, observando as estrelas e falando sobre nossas vidas em longas caminhadas entre os jardins floridos. Mesmo que nunca tenhamos ido a nenhum desses lugares juntos. Na época, apesar de ser primavera, os dias se tornaram frios. A chuva intensa e a cidade conturbada fizeram com que as boas pessoas se recolhessem para abrigos. Em nosso bunker imaginário permanecemos aquecidos e nos fortalecemos. Conhecemos o inferno e o paraíso de cada um e nem sempre sorrindo nos acostumamos a compartilhar vidas, as nossas. Tornamo-nos uma dupla infalível, afável, mas nunca dócil - até porque não é um bom adjetivo para seres humanos. Lá, construímos e reconstruímos inúmeras vezes nossos dias e vidas, como quem joga xadrez ou faz palavras cruzadas. Da amizade, passamos a sentir falta do que éramos quando juntos e um do outro quando separados. Tal complexidade surgiu no exato momento em que o calor do sol secou as calçadas e a cidade voltou a sua calma aparente, ainda que soubéssemos que ela nunca mais seria a mesma. Assim como também sabíamos que nem todas as verdades precisavam ser ditas e a ambivalência foi uma das que preferimos emudecer para sempre. Trilha incidental Eu hoje acordei tão só Mais só do que eu merecia Olhei pro meu espelho e rá! Gritei o que eu mais queria Na fresta da minha janela Raiou, vazou a luz do dia Entrou sem me pedir licença Querendo me servir de guia (...) Eu hoje acordei tão só Mais só do que eu merecia E eu acho que será pra sempre Mas sempre não é todo dia (Sempre não é todo dia, Oswaldo Montenegro)
Rabiscado por Caila às 4:16 AM |
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Gaúcha de Porto Alegre. Psicóloga, mãe e mulher. Gosto de livros, cinema e vídeo. Amigos, longas conversas, animais e viver bem! |
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Corpo e Alma em Verso e Prosa
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e com a participação de vários amigos blogueiros.
Uma "brincadeira pretensamente literária"
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