MarcinTomaszewski
Como um corpo estranho provoca desconforto, um déjà vu pode irritar a alma e provocar febre alta. Tarde chuvosa em meu blog lá, dentre as reflexões de amigos e leitores, encontro um velho conhecido realizando seu comentário como se tomasse um chimarrão sentado a minha frente, tranqüilo, em casa.
Prendo a respiração para ocultar meu espanto ainda que esteja sozinha em frente ao computador. Nem meu pseudônimo é capaz de segurá-lo, nem minha identidade secreta é capaz de afastá-lo do que sou. Como alguém pode conhecer-me tão bem?
Em outro momento, distraída em meus mundos internos , puxa-me à realidade um tom de voz peculiar:
- Oi
- Oi, como sabias que eu estaria aqui? Respondo com uma voz blasé se é que é possível.
- Não sei, pressenti - Desde quando ele é sensível a esse ponto?
Começo a pensar que ainda que eu me travista de formas diversas, percorra outros caminhos até minha casa, lá estará ele, olhos graúdos e claros a espreita de minhas ações acenando para lembrar sua presença. Nunca de uma forma desrespeitosa, mas sendo suave e por vezes até necessário. Lendo-me como quem o faz com uma receita de bolo de caixinha - dois ovos, uma xícara de leite:
- Estás beijando? Namorando? Ingerindo colesterol?
E eu o observando atônita. Relacionamentos passados! Por que não são abduzidos no exato momento do término? Por que são bonzinhos? Por que é difícil odiá-los ainda que pareçam intrusivos e provoquem febre na alma? E, nesse momento, mesmo ardendo percebo, em um misto de encantamento e desconforto, que ele está aqui em algum lugar. Tenho certeza disso.
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"...então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és..." (À Beira do Mar Aberto - Caio Fernando Abreu)
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Rabiscado por Caila às 9:00 AM
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