Sapatinho de Gnomo, Knap
Estive em férias daqui e de mim mesma. Não viajei, não fiz dieta, muito menos realizei descobertas brilhantes no campo das ciências. Não pensei no futuro, não questionei o passado, evitei refletir. Permiti permanecer inerte e não deixei de ser feliz.
Voltei para casa! De onde, muitos julgam, eu não deveria ter saído, para onde, outros refletem, talvez seja perigoso voltar. Não mudei de endereço e sequer precisei de uma empresa de transporte de volumes, porém voltei a me ver refletida naqueles olhos e acalentada pelo olhar de outrora.
Estar em casa é sentir o perfume das orquídeas, admirar suas cores e esperar pacientemente por sua próxima floração. É ter uma lista de compras restrita e sentir-se completa por saber qual direção tomar. É usufruir do sol da manhã abdicando das altas temperaturas, da mesma forma que é sentir-se aquecida no inverno apesar das cobertas serem furtadas constantemente. É não preocupar-se com a rede de proteção por saber que a queda não será iminente.
Mas é tambem ter espaço e oxigênio reconhecendo seu perímetro e sua morfologia e sabendo que situações relegadas acumulam-se e inevitavelmente implodem qualquer afeto e toda boa intenção. Sim, o período no desvio afetivo permitiu que eu percebesse que é preciso paciência para que uma paixão transforme-se em amor e coragem para aceitá-lo apesar de suas adversidades.
Quem,
se eu gritasse entre as legiões de Anjos,
me ouviria?
E mesmo que um deles
me tomasse inesperadamente em seu coração,
aniquilar-me-ia sua existência demasiado forte.
Pois que é o belo senão o grau do terrível
que ainda suportamos
e que admiramos porque,
impassível, desdenha destruir-nos?
Todo anjo é terrível.
Rainier Rilke, Elegias de Duíno
Bom estar de volta ao meu espaço!
Saudades daqui e dos amigos!